Na Quarta-Feira de Cinzas tem início a Quaresma, período que nos remete os 40 dias em que Jesus se retirou para jejuar. Neste tempo, a Igreja nos convida a fazer companhia ao Senhor no deserto: unidos a Ele em sacrifício, compartilhamos as Suas angústias, a Sua fome, a Sua sede. Como nos explicou o Beato João Paulo II, “O jejum no tempo da Quaresma é a expressão da nossa solidariedade com Cristo” (1).
Muitos católicos, entretanto, não dão importância ao jejum e à penitência quaresmal. Acham que isso é “coisa do passado” e vivem este tempo sem alterar suas rotinas em nada. Mas pense: se você reconhece o Cristo como o Deus Vivo, como um amigo real e presente, faz sentido procurar prazer e divertimento em um período de luto pelas Suas dores?
A Tradição da Igreja ensina que, durante a Quaresma, é indispensável assumir atitudes de sacrifício, que nos preparam para celebrarmos dignamente a Páscoa. Em relação ao jejum, muitos se enganam ao pensar que se trata apenas de evitar ingerir carne ou reduzir a quantidade de alimentos. Na verdade, jejuar significa renunciar a alguma coisa que nos dá prazer.
Penitência: você está fazendo isso errado! |
Quando nos privamos de algo de que gostamos, podemos ver que somos capazes, com a graça de Deus, de controlar nossos apetites e dizer “não” a nós mesmos, sempre for preciso. Por meio do jejum, “treinamos” o nosso espírito ao desprendimento das coisas materiais: são coisas boas, que nos alegram, mas não somos dependentes delas; não são elas que dão sentido à nossa vida. Só Deus pode nos saciar!
O jejum também torna a nossa oração mais eficaz, pois nos ajuda a perceber melhor a nossa “fome de Deus”. No Evangelho de Mateus, há um episódio que deixa isso muito claro: os discípulos, sem sucesso, tentaram curar um menino doente. Jesus, então, lhes dá a maior bronca, e cura Ele mesmo o menino. Intrigados, os discípulos perguntaram-Lhe a razão de terem falhado. O Senhor explicou que eles tinham pouca fé e, além do mais, “esta espécie de demônio, só se pode expulsar à força de oração e de jejum” (Mt 17:20).
Vale lembrar que de pouco ou nada adianta fazer um jejum farisaico, formalista, sem desejar de fato colocar em prática os ensinamentos do Evangelho. O profeta Isaías abre os nossos olhos para isso:
Passais vosso jejum em disputas e altercações, ferindo com o punho o pobre. Não é jejuando assim que fareis chegar lá em cima vossa voz. O jejum que me agrada porventura consiste em o homem mortificar-se por um dia? (…) Sabeis qual é o jejum que eu aprecio? – diz o Senhor Deus: É romper as cadeias injustas (…), mandar embora livres os oprimidos (…). É repartir seu alimento com o esfaimado, dar abrigo aos infelizes sem asilo, vestir os maltrapilhos, em lugar de desviar-se de seu semelhante. (Isaias 58:3-7)
Apresentamos a seguir algumas sugestões de atos de penitência para esses 40 dias:
• procure amenizar o sofrimento dos pobres e dos doentes (faça isso durante todo o ano, e tenha especial atenção agora);
• não coma nem beba nada que lhe agrade muito, ou ao menos reduza o consumo de alguma comida ou bebida favorita;
• evite ir a festas, eventos ou ambientes destinados à diversão;
• renuncie a um hábito que lhe satisfaça diariamente – exemplos: ver TV, ouvir música, jogar videogame etc;
• evite fazer compras só por vaidade.
Viva cada dia da Quaresma como quem contempla o Senhor mortificado. Pratique o jejum com seriedade e boa-vontade e convide os seus amigos e familiares a fazer o mesmo. Você verá que os frutos colhidos destes dias de penitência lhe trarão graças durante todo o ano, e a maior delas é amar ao Senhor de forma mais profunda; a segunda grande graça é viver todas as coisas – especialmente aquelas que nos satisfazem carnalmente – com mais sabedoria, liberdade e equilíbrio.
Para quem deseja saber mais sobre o significado do jejum, propomos um papo com nosso sacerdote, não esquecendo de manter sempre sua confissão em dia.. só assim, poderemos buscar dia-a-dia nossa santificação neste mundão!
Fonte: Blog católico “O Catequista”
Nota: (1) Site do Vaticano. João Paulo II – Audiência Geral. 21/03/1979
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